6 de jun. de 2020

Paulo Câmara: 'Retomada depende dos indicadores sanitários'

Governador Paulo Câmara Foto: Heudes Regis/SEI
O senhor foi diagnosticado com Covid-19. Como está a sua saúde e como foi a sua recuperação?

Eu tive sintomas muito leves, apenas no ínicio, na primeira semana. E eu pude, ao longo desses 15 dias em casa, acompanhar todo o trabalho, participar de várias videoconferências e atividades. Também foi um momento de reclusão, de ficar em casa com a minha família. A minha esposa também foi diagnosticada (com Covid-19) e a minha filha mais nova também. Tiveram sintomas leves, cumpriram período de isolamento de 15 dias e estão bem, recuperadas. Eu também estou bem e recuperado. E agora estamos determinados a trabalhar. Eu queria aproveitar também e agradecer a todos os pernambucanos. Recebi muitas mensagens de apoio e vamos dar continuidade ao nosso trabalho.

O senhor tem notícias sobre o recebimento da parcela do auxílio aos estados e municípios? O senhor está acompanhando a votação do veto ao projeto no Senado, que ainda não foi apreciado e pode trazer modificações com impacto nos Estados?

Estamos aguardando a sanção desse auxílio, que demorou muito. O presidente da República sancionou no último dia do prazo legal, dia 27 de maio, com veto a uma questão importante, que é a questão da execução das dívidas da União (o Executivo vetou o adiamento do pagamento das dívidas dos estados com os bancos). Isso representa uma perda financeira muito grande dentro desse ponto do auxílio, que estava em discussão no Senado e na Câmara com o participação do Governo Federal. Mas, estamos aguardando a ajuda. Mesmo com valores menores, essa ajuda é importante para o combate à pandemia e a manutenção dos serviços do Estado. Há uma expectativa de, na próxima semana, esse dinheiro ser liberado, falam em dia 8, dia 9. Eu espero que ocorra realmente na próxima semana. Isso para nós é fundamental para ampliar as ações que estão sendo feitas no combate à Covid-19 e também, dentro desse planejamento nosso, das ações que são decisivas para as atividades no Estado. Para que a gente tenha uma expectativa de volta no futuro com menos sacrifício por parte do crescimento econômico.

Como o senhor viu o veto do Governo Federal ao repasse de R$8,6 bilhões para estados e municípios no combate à Covid-19?

Sempre frustrante. A gente acompanhar a construção de projetos de lei, como nós acompanhamos o auxílio emergencial, onde havia um amplo acordo e negociações no Executivo e, na hora de a lei ser sancionada e colocada em prática, teve alterações no texto. Pega de surpresa não apenas o parlamento, mas todos os entes federativos, estados e municípios. Diante de tantas restrições, toda ajuda é bem-vinda e necessária. Quando é frustrada, a gente realmente fica preocupado porque o quadro é de muitas limitações. E seria uma ajuda importante para estados e municípios no combate à Covid-19. Nós não sabemos ainda a amplitude dessa doença. Nós temos tido um momento agora de certa estabilização. Estamos fazendo as coisas da maneira certa, há uma expectativa no futuro de melhora, mas também pode vir uma segunda onda (da Covid-19). Isso tudo vai precisar de planejamento, de recursos financeiros e gente precisa estar preparado para isso. Estamos tendo uma segunda frustração de recursos a partir desse veto. O primeiro foi em relação a questão das dívidas e, agora, em relação a esse ponto.

Essas mudanças de última hora e a imprevisibilidade do Governo Federal atrapalham o planejamento do Estado?

A gente teve, no mês de maio, uma retração de mais de 35% de queda do ICMS, que é a nossa principal fonte de receita. Quando você tem queda desse nível, os serviços que antes eram ofertados, eles são prejudicados. E a ajuda que nós queremos que saia na próxima semana (auxílio aos estados e municípios) não repõe todas essas perdas. Então, nós vamos ter que, efetivamente, cortar mais serviços, diminuir gastos. Toda a ajuda está focada em salvar vidas. Isso afeta o planejamento todo. A gente tem muita obra para iniciar que não vão ser iniciadas, a gente tem alguns serviços que podem ficar prejudicados por falta de recursos financeiros. Tudo isso causa preocupação e afeta o planejamento, mas a sociedade pode ter certeza que uma das nossas garantias é manter os recursos para atendimento à saúde do cidadão. A questão de saúde e a questão de segurança estão garantidos nesse planejamento. Agora, alguns serviços vão ter algum tipo de restrição e descontinuidade. Muita coisa importante que a gente tinha planejado esse ano, de iniciar obras, realmente vai ficar esperando o momento oportuno.

O senhor anunciou o planejamento de flexibilização gradual das atividades econômicas só que os números nacionais de mortes provocadas pela Covid-19 continuam crescendo. Por que o momento agora é de flexibilizar e como é que o Estado vai acompanhar a evolução da doença?

Nós apresentamos um plano de convivência da Covid-19, que vai ser colocado com muita prudência, com um olhar em relação aos indicadores de saúde para não colocar em risco a vida das pessoas. Temos que pensar dessa forma: um retorno gradual, um retorno aos pouquinhos, sempre monitorado. Todos os dias, nós fazemos as avaliações de todas as regiões, verificando como está o atendimento, como está o crescimento, como está a questão dos óbitos, dos leitos de UTI, dos leitos de enfermaria. Todos os sábados nós fazemos o fechamento da semana para programar as semanas subsequentes. Esse plano de flexibilização foi traçado assim. Nós estamos reabrindo na segunda, dia 8, alguns setores que estavam fechados como a construção civil, o atacado, seguindo o protocolo de higiene e protocolo sanitário, que vão ser fiscalizados. E vamos avaliar a semana. No outro sábado, no dia 13, nós vamos avaliar como estão os números para decidir na segunda-feira a outra etapa, que seria comercio de bairros, os pequenos estabelecimentos e outros serviços que estão programados. Vai ser uma reabertura gradual, aos poucos, sendo avaliada semanalmente. Pode ocorrer de que, em determinada semana, nós vamos precisar restringir mais. Isso vai ser comunicado à população. E vamos torcer para que a gente possa acelerar. Na verdade, essa retomada, vai depender dos indicadores sanitários.

Alguma previsão para sentar com os setores produtivos para avaliar as demandas deles? Alguns setores não se sentiram atendidos pelo decreto de flexibilização.

Desde o início, os secretários fizeram conversas, ouviram e tem acompanhado (as demandas). Nós ouvimos todos. Evidentemente, quando você ouve e pega as sugestões, você tem que tomar as decisões. Na verdade, os setores foram ouvidos, mas algumas das suas reivindicações não foram aceitas por questões sanitárias, questões de saúde. Então, a grande queixa é essa. Nós não atendemos todas as sugestões porque não era possível em termos sanitários responder. Agora, de maneira nenhuma, o Governo vai deixar de ouvir e receber sugestões. Mas temos que tomar decisões e essas decisões estão sendo tomadas baseadas em critérios sanitários e para a proteção da população e a sua saúde.

Como o senhor avalia o tensionamento, no meio de uma pandemia, entre o Executivo e Judiciário, com população indo às ruas se manifestar?

Eu sempre vejo com preocupação essa forma como o Governo Federal tensiona as relações com os poderes federativos. Não é bom. Nós estamos no meio de uma pandemia, enfrentando uma crise mundial de saúde. Estados e municípios estão tocando de maneira solitária essas ações para salvar vidas. O Governo Federal não coordena esse processo, o Governo Federal não se preocupa com as questões sanitárias e tem outras preocupações que, no momento, não são as adequadas para ajudar o Brasil a se livrar dessa epidemia, a combater essa epidemia. Nós estamos fazendo um trabalho muito responsável, com muita determinação, mas se nós tivéssemos desde o início uma coordenação nacional, focada na ciência, ouvindo experiências internacionais e ouvindo as autoridades sanitárias, o Brasil poderia estar passando um momento muito melhor, muito menos dramático do que nós estamos vivendo hoje, com mais de 30 mil óbitos em todo o País. Nós perdemos vidas, com certeza, por falta de coordenação nacional em relação à saúde pública e com discussões e questionamentos desnecessários enquanto o foco de todos nós deveria estar concentrado na saúde pública. Infelizmente, muita energia está sendo gasta em outras ações, em outras questões, em debates muitas vezes complicados, colocando em xeque as instituições, a democracia e isso a gente não pode ser aceito. No âmbito do Estado de Pernambuco, vou continuar a trabalhar para salvar vidas e para preservar a nossa constituição, as nossas instituições em um ambiente federativo de respeito, mas também sempre falando quando for necessário, mitigando aquilo que nós entendemos que não está fazendo bem ao Brasil e ao nosso Estado.

O senhor é contra ou a favor do adiamento das eleições?

Eu sou a favor, sempre, de manter o calendário que já está definido. Agora, evidentemente, tem a questão sanitária nesse percurso e precisa ser avaliado. Está na hora de ter uma decisão. Evidentemente, se no mês de outubro, que está programada a eleição, tiver risco sanitário para as pessoas, a gente vai defender que haja um adiamento. Mas, em princípio, se puder construir alternativas que mantenham essa data seria o ideal. Porque mudanças em questões tão sensíveis como eleições tem que ser feitas sempre como última opção. Mas, como estamos em uma epidemia tem que se observar exatamente a saúde das pessoas, as regras sanitárias e, se for necessário, nós vamos acatar todas as medidas e orientações necessárias e que devem ser seguidas nesse processo.

Da redação | PE+ Notícias
Com informações da FolhaPE

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