16 de nov. de 2021

Corte de verbas para educação preocupa pesquisadores e universidades

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Após várias ameaças e tentativas, o Governo Bolsonaro finalmente conseguiu fazer o que tanto queria: desvalorizar a ciência com o corte de 87% da verba para Ciência e Tecnologia. O corte, que foi de R$ 690 milhões para R$ 89 milhões de investimento na ciência, foi anunciado pelo presidente da República em live no dia 7 de outubro.

Ainda em 2019, a CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), uma das maiores publicações de pesquisa no Brasil com recurso usado para custear insumos, reagentes, equipamentos, laboratórios e outros materiais, também reduziu a verba para equipamentos e materiais de pesquisa em 2020. De R$ 127,4 milhões, a verba despencou para R$ 16,5 milhões, de acordo com o próprio CNPq, no projeto enviado pelo chefe do Executivo ao Congresso na época.

Estudantes e pesquisadores de todo o Brasil fazem atos contra o corte e o atraso no pagamento das bolsas. Inclusive, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) pediu socorro por temer "apagão científico" com o fechamento de laboratórios e fuga de cérebros dos pesquisadores brasileiros.

A pró-reitora do Programa de Pós-Graduação da UFPE, Carol Leandro, explicou que a instituição, assim como as demais Universidades que têm pesquisas internas realizadas, recebeu a notícia com preocupação. "Isso repercute diretamente em projetos de pesquisa, bolsas de produtividade, recursos para os programas de pós-graduação e impacta diretamente na produção científica do País, porque o Brasil tem como característica a produção científica ser realizada nas próprias universidades, diferente de outros países que são institutos de pesquisa".
"Esse corte compromete o avanço da ciência e tecnologia no Brasil. É extremamente grave. A comunidade científica tem se mobilizado, e esperamos que, juntas, consigamos reverter essa situação", ressaltou Carol.
A mestranda em teoria da literatura, pesquisadora e bolsista, Yasmin Maria Galindo, disse que a migração de pessoas é uma conversa bastante escutada entre pesquisadores de todas as áreas. 
"Essa migração dessas pessoas só mostra o cenário que a pesquisa se encontra por aqui e o quanto todos nós perdemos enquanto sociedade com gente tão competente nos abandonando por falta de amparo e incentivo. Ouço falar não só de continuar a pesquisa no exterior, mas também sobre abandono de pesquisa por falta de perspectiva de futuro", disse.
A mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e pesquisadora em literatura e feminismo, Raíza Hanna Milf, pontua que é compreensível que uma pesquisadora ou pesquisador queira ir a outro País que valorize a área científica e educacional, tendo em vista toda a desvalorização e negacionismo da ciência no Brasil, "passamos a colaborar com a ciência realizada também em outro local e para a sua ascensão, deixando o Brasil cada vez mais pobre de intelectualidade"
"É uma saída forçada pelo próprio governo, que como já foi dito, almeja que o País continue sendo um local onde a pobreza nos atinja em todos os âmbitos sociais", destacou.
Por sua vez, o doutorando em teoria da literatura, Edson Silva, lembrou que a fuga de cérebros acontece desde "o golpe de 2016". "É um processo sem volta. Enquanto o Brasil não tiver a responsabilidade de manter os seus pesquisadores, ele será sempre um País incapaz de mudar a própria posição no mundo e, evidentemente, isso vai redundar na fuga de cérebros de trabalhadores sofisticados para o mercado de trabalho que cumpra o que ele promete, que é o pleno emprego a quem tiver qualificação. Essa utopia neoliberal não existe no Brasil e já há o processo de fuga de cérebros em curso".

Por já estar no fim do mestrado, Raíza afirmou não ser afetada pelo corte, mas demonstrou preocupação com os que estão por vir e por visar fazer um doutorado. "O problema mesmo está para aqueles que almejam iniciar uma pesquisa com o incentivo financeiro. Atualmente, o medo que tenho é de não conseguir uma nova bolsa no doutorado, uma vez que desejo seguir na área da pesquisa e devo iniciar o novo nível no ano que vem".

Já Yasmin comentou que não sabe como seria a sua pesquisa sem a bolsa. "A qualidade dela, com certeza, seria prejudicada, sabe? As pessoas às vezes esquecem do grande trabalho que um pesquisador de qualquer área desempenha e encaram a bolsa como uma "ajuda", quando, na verdade, ela é um investimento no próprio País".

A pró-reitora Carol Leandro também explicou o impacto direto que o corte teve para a UFPE, que acaba prejudicando, também, o avanço das vacinas contra Covid-19. 
"Temos pesquisas de coorte, que precisam de recursos anualmente para que os pesquisadores possam coletar dados, e elas têm um impacto direto nas políticas públicas desenvolvidas. Agora, a UFPE também faz parte das universidades que estão produzindo vacina contra Covid-19, e isso vai repercutir diretamente também em recursos para adquirir insumos para a produção delas. Além de pesquisas clínicas, na parte de tecnologia e inovação. O impacto para a UFPE é alto, principalmente por ser uma das maiores universidades do Brasil e a principal do Norte/Nordeste", salientou.
Por sua vez, o professor e pró-reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação da Universidade de Pernambuco (UPE), Sérgio Campello, lamentou o corte e afirmou que a Universidade vê a atitude com "bastante preocupação a forma como a ciência brasileira vem sendo tratada nos últimos anos". "O orçamento destinado à ciência e tecnologia é uma parcela pequena do orçamento federal, mas vem sendo também considerado nos cortes recentes. A UPE, por meio de suas representações em diversas entidades científicas contribuiu na construção e divulgação de Notas Públicas que denunciaram tais cortes e suas consequências".

De acordo com Campello, uma das consequências imediatas é o não financiamento das propostas eventualmente aprovadas no Edital Universal do CNPq, que é um dos maiores editais de pesquisa do País. 
"Ele já havia sido lançado mas não poderá ter seu resultado (ainda não divulgado) honrado pois não haverá orçamento para o pagamento das propostas que viriam a ser aprovadas". Como medida de redução de danos, os pesquisadores da instituição estão atuando na submissão de propostas aos editais da FACEPE (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco), que são em parcerias com o setor produtivo e convênios com entidades públicas de outras esferas para manter o financiamento de suas pesquisas. "Contudo, os cortes irão nos afetar, assim como afetarão a todas as entidades que fazem ciência no País", finalizou o pró-reitor.
Da redação | PE+
Com informações do Diario de Pernambuco

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