28 de ago. de 2013

Mãe de universitária diz que síndico mandou policiais civis agredirem filha

Zelani Marques denunciou desvio em contas de condomínio no Recife.
Delegado diz que mulher resistiu a mandado coercitivo e agrediu agentes.

Luna MarkmanDo G1 PE
Zelani e Vatsyani prestam depoimento na Delegacia do Idoso. (Foto: Luna Markman/G1)

A aposentada Zelani Marques, 65 anos, afirmou nesta terça (27) que o síndico do prédio onde ela mora, no bairro da Boa Vista, Centro do Recife, teria mandado policiais civis sequestrarem e agredirem a filha dela, a estudante de direito Vatsyani Ferrão, na última quinta (22). "Foi ele o mandante desse crime hediondo", disse. Zelani assumiu a gestão do condomínio no começo do ano e teria constatado irregularidade nas contas, que o homem administra há 25 anos. "Desde que relatei para ele o que descobri, as retaliações começaram, e ele disse que tinha pessoas conhecidas na polícia", afirmou.

No dia do susposto sequestro seguido de agressões, Vatsyani relatou que dois homens não identificados a teriam forçado entrar em um carro sem caracterização, sem dar nenhuma explicação. O destino foi a Delegacia do Idoso, que também fica na Boa Vista, onde há queixa de injúria e ameaça registrada pelo síndico contra a universitária. "Em nenhum momento mostraram qualquer documento. Foram quase duas horas no veículo sendo torturada e sofrendo ameaças", contou.


O delegado do Idoso Eronildo Farias negou as acausações. "Isso não é verdade, não permito que meus agentes agridam ninguém. Enquanto ela esteve presente na delegacia, ela não foi agredida. E ela só foi conduzida até aqui dessa forma porque resistiu e desacatou os policias, que não estavam com farda, mas tinham distintivos e o mandado coercitivo, que ela rasgou. O carro realmente estava descaracterizado porque estava em uma investigação", explicou.

Questionado sobre o mandado, Vatsyani depois confirmou que um funcionário contratado por um dos condôminos achou o mandado no chão do prédio. "Ele entregou a minha mãe, que colocou o documento no carro da filha, sem ter conhecimento sobre o conteúdo. Eu só fui ver depois de todo o acontecido e não rasguei. Tanto que postei imagem dele", disse.

Farias informou que as supostas agressões serão investigadas pela Delegacia de Santo Amaro, onde Vatsyane registrou um Boletim de Ocorrência, e pela Corregedoria da Defesa Social. "Assim que ela chegou aqui, na quinta [22], solicitei a presença de um representante da Corregedoria e fiz o encaminhamento do boletim de ocorrência, do auto de resistência e do registro do policial lesionado para Santo Amaro, que vai apurar o caso."
Vatsyani ainda está ferida, com hematomas no rosto e
nos braços (Foto: Luna Markman/G1)

O advogado André Fonseca solicitou ao delegado o nome dos agentes envolvidos na denúncia para que possam ser chamados a prestar depoimento e afirmou que vai pedir a exoneração deles. "Temos provas documentais, depoimentos, imagens que comprovam a agressão que ela sofreu no veículo e dentro da delegacia. Não posso divulgar agora para não atrapalhar o processo", comentou. Fonseca mostrou apenas fotos de Vatsyani, com hematomas nos olhos e braços, dentro de um lugar identificado por um banner como a Delegacia do Idoso.

Confusão no condimínio
Nesta terça, Vatsyani, Zelani e o advogado foram à Delegacia do Idoso prestar esclarecimentos sobre um caso de injúria e difamação que teriam sido praticadas contra o síndico do prédio. O boletim dessa ocorrência foi registrado em abril deste ano. De acordo com o secretário de Defesa Civil, Wilson Damázio, a estudante já havia sido intimida duas vezes e não compareceu à delegacia, o que motivou o mandado coercitivo, onde uma pessoa pode ser conduzida à força até a unidade policial. Uma sindicância foi instaurada pela Corregedoria da Defesa Social para analisar a conduta dos agentes. O secretário acrescentou que ela tem antecedentes, como invasão de propriedade privada.
Foto mostra Vastyani e Zelani na Delegacia do Idoso, na última quinta-feira (22). (Foto: Luna Markman/G1)

Vatsyani se defendeu. "Eu nunca fui intimada pessoalmente, pois nas duas ocasiões eu estava em Brasília. E é óbvio que eu resisti, foi em legítima defesa de terceiro. Eles não se identificaram como policiais. Eu os vi primeiro pegando a minha mãe, e fui lá dizer para eles a largarem, foi quando eles me pegaram e começou tudo. Já imaginava que tinha relação com o síndico do condomínio, pois ele já tinha nos ameaçado, dizendo que tinha conhecidos na polícia. E não existe invasão, pois a pripriedade [um haras] é minha, agora que ela está sendo dividida com o meu ex-companheiro", explicou.

Seis dias depois das supostas agressões, a estudante ainda exibe hematomas no olho esquerdo e nos braços. Zelani também tem manchas roxas no braço direito. Foi a mãe, que é conselheira do prédio, quem explicou como suspostas ameaças do síndico começaram. "Ele é síndico há 25 anos e, no começo deste ano, assumi o lugar dele, que iria sair de férias. Nesse tempo, constatei diversas irregularidades, como ele ter desviado R$ 1.400 do condomínio para comprar euros. Quando ele chegou, relatei tudo e ele ficou chateado, foi quando começou a soltar graça, falar coisa para nós. Ele [o síndico] foi o mandante desse crime", afirmou.

Erolindo Farias diz que não houve agressão na delegacia.
(Foto: Luna Markman/G1)

Vatsyani já não mora mais com a mãe, no prédio que fica na Boa Vista. "Toda vez que eu chegava lá, ela estava chorando por causa dessa situação. Foi quando uma vez eu chamei ele [o síndico] mesmo de ladrão, e eu jamais faria essa injúria se não tivesse provas. Até hoje, sofremos ameaças. É claro que ainda estou com muito medo, ando agora com segurança", disse. O advogado André Fonseca, informou que vai pedir ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, proteção policial à cliente.

Na segunda passada (26), o síndico registrou um segundo boletim de ocorrência na Delegacia do Idoso por calúnia, injúria e ameaça por conta de um encontro que teria tido com Vatsyani e mãe dela, na última quinta (22), mesmo dia em que ela foi encaminhada à unidade policial, e também por causa dos relatos da estudante nas redes sociais e entrevistas. "Esses dois BOs geraram um TCO [Termo Circunstanciado de Ocorrência]. O idoso disse que queria providências da polícia e assim fizemos. Já ouvi declarações do síndico, do porteiro, de uma testemunha, de Vatsyani e da mãe. Ela [Vatsyani] assume em partes, alegando a questão do desvio no condomínio. Vamos encaminhar tudo isso para o Juizado Criminal do Idoso, que vai dizer o que vai acontecer com ela", explicou.

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