23 de ago. de 2012

Implantação de valva cardíaca através da pele é realizada pela 1ª vez em Pernambuco


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"Estou feliz porque vou ficar famoso sendo o primeiro (a ser submetido ao procedimento)", disse, feliz, Antônio Tiburtino
Foto: Amanda Miranda/NE10

Muitos pernambucanos nem sequer imaginavam, mas, dentro de uma sala de cateterismo cardíaco do Hospital Memorial São José, no Centro do Recife, a medicina do Estado iniciava um fato histórico na manhã dessa sexta-feira (17).

Uma nova valva foi introduzida no coração do aposentado Antônio Tiburtino da Silva, 81 anos. Até aí, nenhuma novidade. O que mudou foi o procedimento: em vez de ter que abrir o peito do paciente para poder introduzir o dispositivo, a equipe médica apenas o impulsionou através de uma artéria pulmonar com um simples corte na pele.


Ilustração: CoreValv

A doença que motivou o implante percutâneo de valva aórtica, como é chamado o procedimento feito pela primeira vez em Pernambuco, foi uma estenose aórtica severa, que atinge idosos. Em outras palavras, a valva que permite a passagem do sangue oxigenado para a artéria aorta de Antônio Tiburtino estava tão estreitada que o bombeamento não era feito regularmente.

Depois de ser introduzida, ainda em tamanho reduzido, a nova valva, uma prótese da CoreValv, feita de pericárdio de porco, a membrana que envolve o coração do animal, foi empurrada através de um catéter até o coração, onde se expandiu, esmagando a valva desgastada contra a parede do órgão e tomando o seu lugar.
Veja o vídeo em que o médico Flávio Roberto Oliveira explica como foi feito o procedimento:
Todo o processo durou aproximadamente duas horas. "A enfermeira me fez duas perguntas e depois dormi. Acordei mais ou menos duas horas depois já desse jeito que estou agora, muito bem. Até comi feijão no mesmo dia", relata o paciente.

Apesar da aparente melhora apresentada por Antônio Tiburtino depois de ser submetido ao novo procedimento, o cardiologista responsável, Flávio Roberto Oliveira, alerta que essa "uma técnica de exceção", ou seja, não deve ser utilizada na maior parte dos casos de estenose aórtica severa. "Não é simplesmente por ter agravantes que o paciente deve ser submetido ao implante. A cirurgia cardíaca é muito eficaz na maior parte dos pacientes", explica o médico, que só indica o novo método para pacientes com intervenções mais fortes contraindicadas.

Cinco dias depois de ser submetido ao procedimento inédito no Estado, Antônio Tiburtino já recebeu alta na tarde desta quarta-feira (22). Otimista com o resultado, o aposentado afirma que acredita até já estar curado. Apesar de estar sempre chorando de emoção no apartamento onde está no Memorial São José, faz questão de frisar que todas as lágrimas derramadas são de alegria.
Veja o vídeo em que o paciente fala o que sente depois de ser submetido ao procedimento:
Por causa da doença, há quase 1 ano Antônio Tiburtino sofria com dores constantes no coração. "Eu sentia muito cansaço. Ficava me acabando com a dor tomando o meu coração, apertando o meu peito", relembra. Foram meses saindo de Vitória de Santo Antão, município da Zona da Mata onde mora com a família, para ser internado em hospitais particulares na capital. Segundo o dr. Flávio Roberto Oliveira, se não houvesse melhora, o paciente provavelmente teria apenas cerca de dois anos de vida.

Como se não bastasse esse problema no coração, uma obstrução crônica pulmonar causada por anos de cigarro e exposição a produtos químicos, além do trauma de uma ponte de safena durante a qual o aposentado sofreu um Acidente Vascular Cerebral, resultaram em uma probabilidade de a cirurgia convencional representar mais de 20% de risco.
"Nunca tive medo de morrer. Tinha medo de não ficar bom, mas agora estou ótimo" - Antônio Tiburtino
Para ajudar no procedimento inédito, o médico trouxe ao Recife, como orientador, o Dr. Marcos Antônio Perin, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, com quase 100 implantes percutâneos realizados no currículo. Em SP, o novo procedimento já é oferecido gratuitamente. A equipe foi composta por muitos outros médicos. "Havia tantos médicos para acompanhar que não sei como coube aqui. Estamos de parabéns agora que vou entrar para a História", brinca o aposentado.

ENTRAVES - Apesar das vantagens apresentadas pela técnica, há alguns problemas que, nos cerca de 10 anos de experiências fora, a impossibilitaram em Pernambuco. Um deles é a burocracia para que os planos de saúde autorizem o implante.

Antônio Tiburtino precisou de um ano e uma liminar judicial para ter essa parte do tratamento realizada pelo CapeSaúde. Para o Dr. Flávio Roberto Oliveira, o ideal é que o Estado capacitasse equipes e comprasse as próteses para que a população pudesse ter acesso gratuito ao novo procedimento, que tem custo de mais de R$ 100 mil.

"É importante pensar também que, por ser um método muito novo, ainda não se sabe se é capaz de proporcionar expectativa de vida a longo prazo. Como em doentes de mais idade a intenção primordial é garantir qualidade de vida, só é aplicado para eles. A medicina não tem muitas certezas, mas deve buscar a redução dos riscos", completa.

do NE10

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