10 de ago. de 2012

RECIFE: Redutos resistentes






Maurício Costa Romão*

O senador Humberto Costa, não obstante as traumáticas circunstâncias em que veio a ser guindado representante petista, continua aparecendo bem nas pesquisas do IPMN, malgrado tenha tido uma queda de intenções de voto, agora em agosto, de três pontos de percentagem, relativamente ao levantamento de julho (passou de 35,5% para 32,5%).

É de se aguardar, todavia, futuros levantamentos para avaliar se esses números favoráveis que o senador tem exibido se sustentam, descortinam tendência de queda, ou eventualmente crescem.

Humberto Costa tem a seu favor, independentemente dos méritos pessoais, a força histórica do PT no Recife. Basta dizer que, inobstante o tremendo desgaste da atual gestão petista, ainda assim, 50% dos eleitores dizem que o partido merece continuar à frente da prefeitura do Recife, conforme detectado nesta pesquisa IPMN de agosto.

Claro que há diferença entre manifestação de merecimento e intenção de voto. Dizer que o partido merece continuar gerindo a cidade não é a mesma coisa que declarar intenção de votos ao pretendente que o representa (e, muito menos, tornar manifesta a decisão de voto). Entretanto, não há como deixar de reconhecer aí uma eventualmente forte correlação entre as duas revelações dos eleitores.

Assim, esse dado extraído da pesquisa, o conhecido background do PT na capital, e os percentuais de declaração de voto que têm sido atribuídos ao senador, tudo isso aponta para a existência de um reduto de votos que, se não é inexpugnável, tende a ser bastante resistente à queda, principalmente abaixo de 30%, que seria o eventual piso de votos do partido.

A possibilidade de crescimento consistente das intenções de voto de Humberto Costa não está descartada. Todavia, é pouco provável de isso acontecer face à notória ascensão dos números de Geraldo Júlio - que disputa grande parte dos votos na mesma faixa do eleitorado do PT - e ao desempenho da oposição que, não obstante a flagrante desvantagem diante do rolo compressor das candidaturas pessebista e petista, continua exibindo robustos percentuais acima dos 20% de intenção de votos.

A performance de Geraldo Júlio, por seu turno, é digna de nota: entre as duas pesquisas pós-convenções partidárias, ele mais do que dobrou suas intenções de voto (evoluindo de 6,8% para 14,4%), empatou tecnicamente com a resistente candidatura de Mendonça Filho, deixou Daniel Coelho para trás, e encurtou a distância que o separava de Humberto Costa em mais de 10 pontos de percentagem (de 28,7% para 18,1%).
Em virtude do seu leque de apoiamentos, do patrocínio político do governador, do volume e do profissionalismo de sua campanha, a par de seu próprio desempenho como candidato, esse crescimento das intenções de voto de Geraldo Júlio já era esperado, até mesmo na velocidade em que se deu.

O que se indagava era a fonte através da qual o candidato da Frente Popular sorveria os votos que turbinariam sua ascensão. As pesquisas do IPMN de julho e agosto forneceram as pistas iniciais. O crescimento de intenção de votos de Geraldo Júlio, de 7,6 pontos, deu-se em cima de todas as alternativas possíveis: 3,0 pontos de Humberto, 3,7 pontos de Mendonça, 0,1 ponto de Daniel, 0,4 pontos dos outros candidatos e 0.3 pontos da categoria de indecisos.

As novas pesquisas apontarão até onde essas fontes continuarão a abastecer o motor pessebista, na hipótese bastante provável de que sua candidatura galgue percentuais mais elevados à medida que vai ficando mais conhecida do público (33% dos eleitores afirmaram nesta pesquisa de agosto que nunca ouviram falar em Geraldo Julio). E isso se dará mais intensamente a partir do dia 21 de agosto, quando começa o horário eleitoral gratuito, no qual a postulação do PSB detém quase 13 minutos de rádio e TV.

Não se deve esperar, contudo, que os novos acréscimos de intenção de votos que regarão o jardim pessebista se registrem na proporção meteórica ocorrida de julho para agosto. As resistências dos núcleos petista e oposicionista, já comentadas, sinalizam que o crescimento de declaração de votos a Geraldo Júlio se dê a taxas marginais decrescentes, quer dizer, a velocidades menores.

Quanto mais resistência à queda houver nos bunkers petista e oposicionista, tanto mais importante se torna a categoria dos votos em branco, nulos e indecisos como fonte natural de provimento de intenções de voto para os futuros avanços pessebistas.

É preciso lembrar, contudo, que mesmo no dia da eleição essa categoria ainda registre um resíduo no entorno de 10%. Então, dos 28% de votos ainda garimpáveis nessa categoria, apenas 18% estarão disponíveis. Mas disponíveis não só para os pessebistas...

*Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e de Mercado, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br, http://mauricioromao.blog.br.

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